A preparação começou em 2013: para ela, que nunca andava de bicicleta, foi preciso comprar uma e começar a pedalar; ele, que andava de bicicleta quase todos os dias, ia alimentando o bichinho, que ela lhe passara, de conhecer sítios novos, lugares diferentes, sair do país. Também nesse ano, Daniela Toscano e Tiago Esteves criaram o blogue América a Pedal. Queriam documentar a preparação e – porque não? – inspirar outros a fazer como eles.
Passaram dois anos a poupar, a vender o mobiliário, a oferecer à família o que tinham em casa, a planear trajetos. Em julho de 2015, apanharam o avião para o Canadá e saíram de Edmonton, no estado de Alberta, a pedalar em direção a sul. Objetivo: chegar à Argentina, no extremo oposto, em dois anos.
«Percebemos que é uma forma de viajar muito especial e que pode ser também bastante económica», explicam por e-mail.
Tiago é militar e pediu licença sem vencimento. Daniela trabalhava por conta própria em consultoria de recursos humanos, e limitou-se a informar os clientes de que ia fazer uma pausa prolongada. Apesar de se conhecerem há dez anos e de já terem feito outras viagens juntos, este foi o primeiro grande projeto em que embarcaram a dois: Daniela com 35 quilos nos alforges pendurados na bicicleta, Tiago com 40. «Percebemos que é uma forma de viajar muito especial e que pode ser também bastante económica», explicam por e-mail, já a partir da América Latina, sobre os motivos que os levaram a escolher tão ousada forma de deslocação.
Não mentem, o início foi difícil, também por causa do meio de transporte: «Demorámos algum tempo até encontrar um ritmo comum. Não só no que diz respeito à diferença de condição física como também à quantidade de dias que decidíamos parar em algum lugar para descansar e visitar. Como é uma viagem que exige bastante esforço físico, tivemos de aprender a respeitar as nossas diferenças.» Mas tudo se encaixou.
«Nem sempre é uma viagem romântica», dizem os viajantes. Mas a prova disso tem sido superada.
Mas a prova tem sido ultrapassada com sucesso e a decisão de cada um ter a sua bicicleta, garantem, foi a mais acertada: «Já conhecemos casais a viajar em tandem, aquelas bicicletas para duas pessoas, e achamos que essa não seria uma boa opção para nós.» Admitem que o México e El Salvador foram, até agora, os países a recebê-los com mais hospitalidade, apesar de não terem razões de queixa da América do Norte.
No parque de Yellowstone, numa das estradas mais estreitas, foram escoltados por um indivíduo que seguia de automóvel e fez questão de os manter em segurança, provocando uma enorme fila de carros atrás deles. Tiveram de parar e agradecer-lhe o gesto, garantindo que a partir dali seguiam bem, para que o norte-americano os deixasse continuar sozinhos. Também tiveram convites inesperados, ainda durante a travessia dos EUA: «Um dia, uma senhora parou o carro à beira da estrada e esperou por nós, para nos convidar a ficar hospedados em casa dela naquela noite.»
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